Cinco Discos Para Conhecer: Stoner Rock - Parte 1


Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Bruno Marise

Existem inúmeras versões e definições a respeito do surgimento do chamado Stoner Rock. Mas a primeira vez que o termo foi usado, foi em 1997, ao batizar a coletânea Burn One Up! Music for Stoners, da Roadrunner Records. Enquanto gênero, ele realmente surgiu e se popularizou a partir da década de 90, porém todas as suas influências e características datam dos empoeirados anos 70. O interessante dessa vertente, é que apesar de conseguir agregar inúmeras bandas, ela é bastante abrangente. Se fossemos tentar defini-lo, seria uma mistura de doom metal, psicodelia, space rock e blues. As características em comum estão nas canções baseadas em riffs, pedindo toda a benção a Tony Iommi, uso constante de pedal wah-wah e fuzz, produção simples e cru e letras sobre drogas (daí o termo “stoner” que é uma denominação pejorativa, algo como “maconheiro”), misticismo, sexo ou as vezes um amontoado de palavras sem muito sentido. Exatamente por ser um nicho tão difuso, resolvi dividir esse post em duas partes, indicando os dez discos que representam um pouco de cada área desse gênero tão cativante. Boa viagem, bro!

Black Sabbath – Master Of Reality [1971]
Mesmo tendo sido lançado numa época em que tudo era taxado apenas como Hard Rock, Master Of Reality é sem dúvida o marco zero do stoner rock. Toda banda do gênero deve as calças ao Black Sabbath da fase Ozzy. Esse é o disco Stoner por excelência, praticamente uma cartilha. Está tudo ali: Os riffs encorpados, maconha (“Sweet Leaf”), faixas viajantes (“Orchid” e “Solitude”), cozinha pesada. Se nos dois primeiros discos a influência de blues e jazz ainda eram evidentes no som dos maloqueiros de Birmingham, aqui foi que o caldo engrossou. 42 anos se passaram e poucas vezes ouviu-se um som de guitarra tão pesado. Disco obrigatório pra qualquer um que queira fazer esse tipo de música.

 

Kyuss – Welcome to Sky Valley [1994]
Depois do Black Sabbath, o Kyuss é sem dúvida a banda mais cultuada da cena stoner. Em 1992 o quarteto de Palm Desert deixou os cabeludos maravilhados com o peso de Blues For The Red Sun. Na época, a banda chegou a ser rotulada de “desert rock”. Mas foi com o terceiro disco que eles atingiram o auge, com uma tracklist dividida em três suítes de várias partes cada. O brilhante e ainda adolescente guitarrista Josh Homme consegue mesclar riffs monolíticos a la Black Sabbath com passagens viajantes e psicodélicas, tudo em afinação droppada e usando amplificadores de baixo pra deixar tudo mais pesado e grave. Apesar de sempre ter rejeitado o rótulo stoner, o Kyuss foi importantíssimo para o desenvolvimento e popularização do gênero, que cresceria anos 90 a dentro. A banda encerrou as atividades em 1995, se desmembrando em vários outros grupos entre eles o Queens Of The Stone Age, Fu Manchu, Mondo Generator, Unida, Dwarves e Eagles Of Death Metal.

 
Down – NOLA [1995]
O que era apenas um projeto entre amigos de New Orleans, acabou se tornando um dos supergrupos mais legais dos anos 90. Formado em 1991 por Phil Anselmo (Pantera) nos vocais, Kirk Windstein (Crowbar) e Pepper Keenan (Corrosion of Conformity) nas guitarras, Todd Strange no baixo e Jimmy Bower (Eyehategod) na bateria, o Down lançou seu disco de estréia em 1995, período em que o vocalista estava afundado nas drogas e havia se distanciado dos membros do Pantera. Com influências fortes de Black Sabbath, Pentagram e Saint Vitus, a banda já de cara entrega uma obra-prima do gênero, com as guitarras massacrantes de Windstein, o timbre matador de Keenan, o sempre poderoso vocal de Anselmo e uns toques de southern rock. Entre idas e vindas, o Down lançou mais dois discos bem interessantes, mas nunca conseguiu igualar a qualidade de NOLA, representante mais sombrio dessa lista, com a sonoridade puxada para o doom metal e as letras pessoais e diretas de Phil Anselmo

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Corrosion Of Conformity – Deliverance [1994]
O COC Começou como uma banda de Hardcore lá nos anos 80, e ao longo do tempo foi mudando totalmente sua sonoridade. Passou por uma fase thrash/crossover com o disco Animalize (1985), e com a entrada do guitarrista Pepper Keenan em 1991, foi mudando para um som cada vez mais próximo do então chamado stoner. Com o disco Blind, a banda manteve a pegada thrash, mas deu uma pisada no freio, deixando as canções mais pesadas e cadenciadas. Só no disco seguinte, Deliverance, com Keenan assumindo os vocais e a liderança criativa da banda, que o Corrossion Of Conformity investiu nos riffs e grooves típicos da década de 70, além de outros elementos, como wah-wah, fuzz e guitarras gêmeas solando. Nos trabalhos seguintes, a banda continuaria a mudar o som, sempre transitando entre o hard setentista e o metal, mas Deliverance fica como o registro mais representativo do stoner e uma das melhores obras de Pepper Keenan, com um timbre de guitarra inacreditável.



 

Monster Magnet – Dopes to Infinity [1995]
Muitos indicariam o chapadíssimo Spine Of God(1992), que segundo a lenda foi gravado com o líder e vocalista da banda Dave Wyndorf sob o efeito de todas as drogas possíveis. Talvez o mais indicado para conhecer o trabalho seja o hardão de Powertrip(1998), mas sem dúvida o mais bem acabado e com as melhores composições dessa fase, é Dopes to Infinity (nome lindo). Nesse disco, a banda conseguiu unir o clima viajante dos trabalhos anteriores com elementos de hard rock e as melodias vocais de Wyndorf. É um álbum stoner por excelência: Drogas, riffs, wah-wah, psicodelia e viajandices pra ninguém botar defeito.

 

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