Archive for junho 2015

Playlist TF - Free

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A década de 70 foi tão produtiva e o rock se desdobrou em tantos gêneros e subgêneros que algumas bandas ficaram difíceis de classificar. O grupo inglês Free, foi jogado no balaio do Hard setentista, e por isso muitas vezes o fã do estilo torce o nariz quando ouve o som pela primeira vez, já que está longe da quebradeira de um Grand Funk Railroad o um Cactus ou do proto-metal místico de Rainbow e Blue Öyster Cult. O som do Free é mais domado, malemolente. Recheado de balanço e malícia. A cozinha  formada pelo prodígio Andy Fraser e o competente Simon Kirke é puro groove, sem distorção no baixo  ou viradas insanas de bateria. O primoroso guitarrista Paul Kossoff não toca riffs ou solos faíscantes. Sua pegada é mais sutil. É como se ele acariciasse a Les Paul levemente distorcida. O lendário Paul Rodgers tem uma bela voz rouca e grave, diferente dos agudos estridentes que tomavam conta do rock da época.

O Free consagrou-se com seu terceiro disco Fire and Water de 1970, mas as vendas irregulares, brigas entre integrantes e problemas com drogas levaram ao fim da banda duas vezes, com uma tentativa fracassada de retorno em 1973 e a ruptura definitiva no mesmo ano. Em 1975, uma complicação devido ao uso de drogas interrompeu precocemente a vida de Kossoff, um dos guitarristas mais promissores de sua geração. Ele tinha apenas 25 anos. Andy Fraser teve alguns discos solos, ao longo do tempo, mas nunca alcançou o mesmo sucesso, apesar de ter sido um baixista talentoso e extremamente influente. Ele faleceu em março deste ano, de AIDS, aos 62 anos. Paul Rodgers e Simon Kirke e Paul Rodgers formaram o Bad Company ainda nos anos 70, além de participarem de outros projetos, mantendo-se na ativa até hoje.

Essa playlist traz 20 faixas para conhecer o maravilhoso trabalho do Free, uma banda de certa forma ainda subestimada. Enjoy!



EC Comics, um dos pilares do entretenimento fantástico

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Você pode até estranhar o nome, mas com certeza não ficou imune à influência que essa editora teve no entretenimento fantástico e cultura pop nos últimos 60 anos. Em 1947, William Gaines, regresso da Força Aérea assumiu a empresa depois que seu pai Max, o fundador, faleceu em um acidente de barco. A princípio, o objetivo da editora era publicar histórias educativas sobre ciências e versões em quadrinhos de passagens da bíblia. Quando William assumiu as rédeas, a Educational Comics mudou para Entertaining Comics, dando início a sua fase áurea.

Grande parte do consumidor de quadrinhos da época era formado por jovens adultos, e esse público estava regressando da Segunda Guerra. As histórias de super heróis, mocinhos contra bandidos, recheadas de maniqueísmo não faziam mais a cabeça e os veteranos que haviam sido preparados para serem máquinas de matar nos campos de treinamento, voltavam para casa sedentos por HQs mais violentas, assustadoras e com referências sexuais. Gaines, resolveu então experimentar e investiu em uma série de histórias com temática de terror, ficção científica, guerra e crime. A trinca Tales From The Crypt, The Vault Of Horror e The Haunt Of Fear foi a mais consagrada, trazendo histórias de terror, com uma linguagem ácida, humor negro e violência. Para se ter uma ideia, as revistas influenciaram gente do calibre de Stephen King, John Carpenter, George Romero e Steven Spielberg.

Shock Suspentories trazia contos sobre crimes, e lidava com temas extremamente tabu na época, como sexo, drogas e racismo. Frontline Combat e Two-Fisted Tales eram revistas de guerra, de tom pessimista, anti-bélico e com tramas que fugiam do maniqueísmo, diferente do teor heróico pelo qual o tema geralmente era tratado. Bill Gaines, um grande entusiasta de ficção científica, sempre declarou que a linha dedicada a esse tema era sua preferida, através de Weird Science e Weird Fantasy.

A EC Comics ia muito bem até que em 1954, o psiquiatra Fedric Wertham o livro Seduction Of The Innocent, onde ele compilou entrevistas feita com jovens criminosos em instituições correcionais e que revelavam um aspecto comum entre os garotos: Todos eram leitores de histórias em quadrinhos. Em uma conclusão precipitada, Wertham, que já havia publicado artigos alertando aos pais sobre o conteúdo dos gibis, acusou as HQs de serem grandes responsáveis pela delinquência juvenil. Um novo inimigo estava declarado. Preocupado, Gaines propôs que todas as publishers se reunissem para evitar que essas imposições morais prejudicassem a liberdade editorial das revistinhas, e assim nasceu a Comics Magazine Association um verdadeiro tiro pela culatra que acabou se revelando um órgão de censura, através do Comics Code Authority (CCA), e sua série de restrições às publicações em troca de um selo de aprovação, para garantir a tranquilidade dos pais. Algumas das exigências consistiam em não usar as palavras "estranho", "horror" ou "terror" nas capas. A luta entre o bem e o mal devia ficar bem definida, com o primeiro sempre vencendo o segundo. Estavam banidas ilustrações chocantes de vampiros, demônios, caveiras, zumbis e outros monstros, além de qualquer tipo de conteúdo violento. Ou seja, proibiram tudo que fazia o nome da EC Comics. Furioso, Gaines acabou se retirando da CMA, que ele próprio ajudara a fundar.

Apesar da luta de Bill Gaines contra a censura, a EC Comics acabou derrotada e teve que parar de produzir suas famigeradas revistinhas, adaptando outras publicações para que recebessem o selo da CCA. Mesmo assim o legado da editora é imensurável. O formato de antologias de terror, sempre com um final chocante e inesperado, inspiraria inúmeros filmes nos anos 70 e 80. O estilo de desenho tornaria-se referência tanto nos quadrinhos quanto no universo de terror, sendo homenageado em capas de discos, artes e pôsteres de cinema. Na década de 90, a HBO lançou a série Contos da Cripta, com adaptações de histórias publicadas pela EC Comics. O programa foi um sucesso, conseguindo reproduzir o estilo e padrão de qualidade pelo qual as revistas sempre prezaram.

O boneco Cryptkeeper, que apresentava a série da HBO
Em 2008, a Gemstone Publishing lançou a EC Archives, uma compilação da linha fantástica da EC, publicadas nos anos 40 e 50, encadernada, recolorida e com prefácio de medalhões como John Carpenter, R.L. Stine, George Lucas, John Landis, Robert Englund, entre outros. O projeto foi encerrado em 2013, mas a editora Dark Horse assumiu a bronca e segue com os relançamentos das clássicas revistinhas. Se alguém quiser um dia me presentear, eu aceito de bom grado! Não há nenhuma versão brasileiras das HQs, mas é possível importar pela Amazon, Ebay ou pelo próprio site da Dark Horse.

Depois de perder a batalha contra a censura, Gaines decidiu investir em outra publicação clássica da editora: MAD, a maior revista de humor de todos os tempos, da qual foi editor até sua morte em 1992. Mas isso é história para outro post.

Disco da Madrugada: Tom Waits - Closing Time (1973)

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Hoje Tom Waits pode ser mais famoso por seus discos experimentais, anti-convencionais e transgressores, mas seu começo de carreira não foi bem assim. Parte do cast do selo Asylum, que abrigava artistas de soft-rock e folk como Eagles, Jackson Browne e Linda Rondstadt, Waits estreia em estúdio com um trabalho repleto de baladas jazzísticas calcadas no piano e arranjos minimalistas. O álbum cai perfeitamente na noite. É uma trilha sonora não oficial das madrugada. Quase um disco conceitual, desde a belíssima capa e título até as letras, tipicamente setentistas, evocando toda a poesia urbana de Waits, e botando mais um prego no caixão de toda a euforia e otimismo do Flower Power. Soldados morriam aos montes no Vietnã, a heroína invadia as ruas, Charles Manson, o hippie mais célebre havia comandando uma matança sem precedentes. O começo dos anos 70 marcou o êxodo urbano do rock, e as canções bicho-grilo sobre natureza, amor livre e lendas folclóricas deram lugar à histórias de bêbados, prostitutas, viciados, mendigos e todas as demais personagens da cidade grande. Closing Time é assim. Soa triste sem ser depressivo. Melancólico e bonito, elegante e marginal. Em meio à fumaça de cigarros, copos de bebida e cheiro de urina, Tom Waits canta sobre amor, solidão, sexo e relacionamentos fracassados. Dá voz aos perdedores e outsiders com um sarcasmo e toque humorístico únicos e uma interpretação doída e sincera, distante de suas performances debochadas e quase guturais dos anos 80.  Dê o play e curta sem pressa, é uma ótima companhia.


Playlist TF - Queen

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O Queen é uma banda incomparável. Foi do hard setentista ao pop dançante passando com excelência pelo metal, progressivo e rock de arena. Tudo isso soando extremamente original e inimitável e com uma discografia bastante consistente, salvo pouquíssimos tropeços (alô Hot Space). Como se não bastasse, ainda contavam com o melhor frontman da história do rock, um guitarrista genial e de timbre único, um baixista que compunha brilhantemente e um batera que soava diferente e ainda tinha uma ótima voz.

A banda sabia como poucos aproveitar os recursos do estúdio, trabalhando duro na produção do discos e sendo inovadora nos overdubs de vozes e guitarras e usando tudo o que tinham em mãos para incrementar seu som. O mais incrível é que ao vivo eles não deixavam barato e graças as performances e o carisma de Freddie Mercury faziam um dos shows mais apoteóticos já vistos.

Fiz essa playlist que abrange a extensa e variada carreira do Queen, passando por todas as suas fases. Recomendo uma ouvida em toda a sua discografia, mas para quem está começando a se aventurar pelo trabalho da banda, essas 20 faixas são uma boa pedida. Divirta-se!

 


Ajude um Gamer - This War Of Mine

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Jogo videogames desde criança. Comecei aos quatro ou cinco anos no Super Nintendo de um primo e nos joguinhos de DOS do Pentium 365 que meu pai comprou lá em meados dos anos 90. Mas na corrida das placas de vídeo potentes, processadores velozes e consoles de última geração, sempre saí perdendo. Meu primeiro videogame próprio foi comprado aos 21 anos. Um Xbox 360 em seus últimos anos de relevância. Meus computadores sempre tiveram configurações modestas, mas isso nunca me impediu de me divertir. Por esse motivo e tomando inspiração no sensacional post da Vice, resolvi criar uma seção para indicar jogos bons, baratos e que rodam sem problemas em qualquer máquina mais modesta. Vocês vão ver que não é preciso gastar uma fortuna pra poder se divertir nesse mundo tão viciante.


Para estrear essa seção, começo recomendando This War Of Mine. Um jogo de guerra diferente de qualquer outro título do gênero. Dessa vez você não vai comandar pelotões, nem controlar soldados ou matar hordas de inimigos. Seu papel é comandar um grupo de civis cujo único objetivo é sobreviver ao inferno da guerra. A proposta da desenvolvedora 11Bit Studios é justamente essa: Mostrar que em um conflito armado não existe apenas os soldados. Os cidadãos comuns também sofrem e muito, e passam provações até maiores, mesmo não estando na linha de frente do combate.

O jogador começa com três sobreviventes, cada um com sua personalidade, suas virtudes e fraquezas, refugiados em uma casa abandonada. Os recursos são escassos, e a comida, remédios e demais provisões são mínimos. Durante o dia não dá para sair, com o risco de ser atingido por um franco-atirador. Você deve vasculhar a casa por recursos, e usá-los para construir o que for possível para tornar a vida no mínimo suportável. Quando chega a noite, é hora de definir quem vai ficar de guarda, quem irá descansar e quem vai sair pela cidade à procura de suprimentos. No papel pode parecer tudo muito monótono, mas acredite, o desafio é enorme. As possibilidades são inúmeras e a situação pode desandar de uma hora para a outra rapidinho. Além do risco de seus comandados morrerem de fome, frio, desidratação, doença e ferimentos, o fator psicológico também é vital. Por exemplo, nessas caçadas noturnas, você pode dar de cara com militares, bandidos ou apenas outros sobreviventes na mesma situação que a sua. Se o seu "caçador" for morto, isso afetará os demais, deixando-os deprimidos e com medo de saírem do abrigo, correndo o risco de também serem mortos. Se a pessoa não achar uma distração ou fizer algo que dê uma renovada nos ânimos, pode acabar se afundando na depressão e cometendo suicídio. Sim, é pesado.



Suas escolhas sempre interferem no restante da história. Qualquer decisão tomada pode ser fatal, e elas não são nada fáceis. Em alguns momentos o jogo te coloca em situações extremas. Por exemplo: toda a comida do abrigo e das redondezas pode acabar, e a única maneira de seus sobreviventes não morrerem de fome, é roubando comida de um casal de velhinhos, que imploram para que você não o faça. Aí só existe dois caminhos. Tentar encontrar outra fonte de alimento, correndo o risco de os civis não suportarem a fome, ou roubar dos velhinhos, o que deixará os mais sensíveis do grupo deprimidos. No decorrer do jogo, outras pessoas podem aparecer no abrigo tentando trocar suprimentos, pedindo ajuda, ou até mesmo um lugar para ficar. A decisão é sua. Mais gente significa mais bocas para alimentar, mas também é mais mão-de-obra para defender o abrigo e procurar recursos.

This War Of Mine proporciona uma realidade muito humana, é uma experiência completamente imersiva. O jogador fica tão envolvido com as personagens, que mesmo sabendo que é apenas um game, essas escolhas e situações acabam mexendo com você. Os gráficos têm um toque artístico, como se tivessem sido desenhados à lápis, o que dá um contraste bem interessante entre luz e sombra, contribuindo para a atmosfera sombria. As rejogabilidade é bem grande, já que cada partida é completamente diferente da outra, com personagens e acontecimentos aleatórios, que proporcionam uma história totalmente nova.

This War Of Mine está disponível na Steam por R$ 36,99. É um pouco caro se levarmos em conta que sempre têm promoções por lá e os preços caem bastante, mas caso tiver pressa, pode comprar sem medo que vale muito a pena, não só pela qualidade do jogo mas pela alta rejogabilidade. Além de ser dificílimo chegar ao final, quando se termina dá vontade começar outra campanha só para ver uma história diferente e enfrentar novos desafios.

Disco da Madrugada: Phil Upchurch - Darkness, Darkness (1972)

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Sou um apaixonado pela madrugada. Para mim não existe hora melhor para conversar, ver um bom filme, escrever, jogar, e obviamente ouvir música. Como tenho um gosto musical bastante extenso, e basicamente uma relação quase doentia com esse universo, quando vai chegando a uma certa hora, gosto de ouvir apenas um determinado tipo de som, mais calmo, sem muito barulho, sem muita energia. Tenho sempre em mãos uma discoteca básica que ponho para rodar nesses momentos, por isso resolvi criar essa seção para compartilhar esses álbuns com você, leitor, que também aprecia curtir um som tarde da noite.


Phil Upchurch foi um rodado músico de estúdio nos anos 60 e 70 que tocou com gigantes da música pop do período, entre eles B.B. King, Curtis Mayfield, Stan Getz e Quincy Jones. Em 1967, formou o grupo Rotary Connection, que seria o responsável pela sonoridade de Electric Mud, disco que ressuscitou a carreira do veterano Muddy Waters. Darkness, Darkness é seu sétimo trabalho solo, e sem dúvida o auge do guitarrista. Uma agradável mistura de soul, blues e jazz. Os excelentes músicos criam uma parede sonora com arranjos caprichadíssimos, servindo de apoio para que a guitarra funkeada e cheia de wah-wah de Upchurch brilhe e contagie o ouvinte desde o início. As faixas são longas, mas a performance é tão acima da média que quando se dá conta o disco já está no final. Passa voando. Mas o esquema aqui é na manha, pra ouvir sem pressa. Os músicos parecem estar divertindo em uma agradável e descompromissada jam. A sensação é de se estar ouvindo um grupo tocando em um clube de jazz americano, durante uma madrugada chuvosa. Apesar de trazer várias versões de outros compositores - e algumas de autoria própria - o disco é todo instrumental, o que é uma ótima pedida caso você esteja procurando apenas uma trilha sonora para trabalhar ou se concentrar.




Playlist TF - Funk/Soul

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Desde que comecei a usar o Spotify a um ano atrás, não parei mais. É um negócio viciante. O aplicativo conseguiu reunir a praticidade do streaming com excelente qualidade de áudio, boa interação entre os usuários e um sistema de cache e recomendações igual ao do lastFM, de uma maneira bastante dinâmica. Um dos recursos mais legais do Spotify é a criação de playlists. Não passo um dia sem montar uma nova, seja pra reunir algumas faixas favoritas ou elencar discos que quero ouvir. Começo essa série de posts com a primeira playlist que fiz, dedicada ao soul e funk das antigas. São mais de 7 horas e 108 faixas de guitarras sacolejantes, linhas de baixo gordurosas, grandes vozes e muito groove. GET DOWN!

   




Tênis Furado

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Pessoal, criei esse blog há algum tempo com a intenção de usá-lo como um agregador de todo conteúdo que eu havia produzido para a internet. Acabei abandonando a ideia após um tempo, mas resolvi reativar o espaço para escrever e compartilhar ideias, dicas e coisas legais. Cinema, música, games, história, política, cultura pop, esportes e tudo o que faz a minha cabeça. Espero que gostem e voltem sempre!