EC Comics, um dos pilares do entretenimento fantástico


Você pode até estranhar o nome, mas com certeza não ficou imune à influência que essa editora teve no entretenimento fantástico e cultura pop nos últimos 60 anos. Em 1947, William Gaines, regresso da Força Aérea assumiu a empresa depois que seu pai Max, o fundador, faleceu em um acidente de barco. A princípio, o objetivo da editora era publicar histórias educativas sobre ciências e versões em quadrinhos de passagens da bíblia. Quando William assumiu as rédeas, a Educational Comics mudou para Entertaining Comics, dando início a sua fase áurea.

Grande parte do consumidor de quadrinhos da época era formado por jovens adultos, e esse público estava regressando da Segunda Guerra. As histórias de super heróis, mocinhos contra bandidos, recheadas de maniqueísmo não faziam mais a cabeça e os veteranos que haviam sido preparados para serem máquinas de matar nos campos de treinamento, voltavam para casa sedentos por HQs mais violentas, assustadoras e com referências sexuais. Gaines, resolveu então experimentar e investiu em uma série de histórias com temática de terror, ficção científica, guerra e crime. A trinca Tales From The Crypt, The Vault Of Horror e The Haunt Of Fear foi a mais consagrada, trazendo histórias de terror, com uma linguagem ácida, humor negro e violência. Para se ter uma ideia, as revistas influenciaram gente do calibre de Stephen King, John Carpenter, George Romero e Steven Spielberg.

Shock Suspentories trazia contos sobre crimes, e lidava com temas extremamente tabu na época, como sexo, drogas e racismo. Frontline Combat e Two-Fisted Tales eram revistas de guerra, de tom pessimista, anti-bélico e com tramas que fugiam do maniqueísmo, diferente do teor heróico pelo qual o tema geralmente era tratado. Bill Gaines, um grande entusiasta de ficção científica, sempre declarou que a linha dedicada a esse tema era sua preferida, através de Weird Science e Weird Fantasy.

A EC Comics ia muito bem até que em 1954, o psiquiatra Fedric Wertham o livro Seduction Of The Innocent, onde ele compilou entrevistas feita com jovens criminosos em instituições correcionais e que revelavam um aspecto comum entre os garotos: Todos eram leitores de histórias em quadrinhos. Em uma conclusão precipitada, Wertham, que já havia publicado artigos alertando aos pais sobre o conteúdo dos gibis, acusou as HQs de serem grandes responsáveis pela delinquência juvenil. Um novo inimigo estava declarado. Preocupado, Gaines propôs que todas as publishers se reunissem para evitar que essas imposições morais prejudicassem a liberdade editorial das revistinhas, e assim nasceu a Comics Magazine Association um verdadeiro tiro pela culatra que acabou se revelando um órgão de censura, através do Comics Code Authority (CCA), e sua série de restrições às publicações em troca de um selo de aprovação, para garantir a tranquilidade dos pais. Algumas das exigências consistiam em não usar as palavras "estranho", "horror" ou "terror" nas capas. A luta entre o bem e o mal devia ficar bem definida, com o primeiro sempre vencendo o segundo. Estavam banidas ilustrações chocantes de vampiros, demônios, caveiras, zumbis e outros monstros, além de qualquer tipo de conteúdo violento. Ou seja, proibiram tudo que fazia o nome da EC Comics. Furioso, Gaines acabou se retirando da CMA, que ele próprio ajudara a fundar.

Apesar da luta de Bill Gaines contra a censura, a EC Comics acabou derrotada e teve que parar de produzir suas famigeradas revistinhas, adaptando outras publicações para que recebessem o selo da CCA. Mesmo assim o legado da editora é imensurável. O formato de antologias de terror, sempre com um final chocante e inesperado, inspiraria inúmeros filmes nos anos 70 e 80. O estilo de desenho tornaria-se referência tanto nos quadrinhos quanto no universo de terror, sendo homenageado em capas de discos, artes e pôsteres de cinema. Na década de 90, a HBO lançou a série Contos da Cripta, com adaptações de histórias publicadas pela EC Comics. O programa foi um sucesso, conseguindo reproduzir o estilo e padrão de qualidade pelo qual as revistas sempre prezaram.

O boneco Cryptkeeper, que apresentava a série da HBO
Em 2008, a Gemstone Publishing lançou a EC Archives, uma compilação da linha fantástica da EC, publicadas nos anos 40 e 50, encadernada, recolorida e com prefácio de medalhões como John Carpenter, R.L. Stine, George Lucas, John Landis, Robert Englund, entre outros. O projeto foi encerrado em 2013, mas a editora Dark Horse assumiu a bronca e segue com os relançamentos das clássicas revistinhas. Se alguém quiser um dia me presentear, eu aceito de bom grado! Não há nenhuma versão brasileiras das HQs, mas é possível importar pela Amazon, Ebay ou pelo próprio site da Dark Horse.

Depois de perder a batalha contra a censura, Gaines decidiu investir em outra publicação clássica da editora: MAD, a maior revista de humor de todos os tempos, da qual foi editor até sua morte em 1992. Mas isso é história para outro post.

This entry was posted on and is filed under ,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

Leave a Reply