Archive for 2014

Cinco Discos Para Conhecer: Stoner Rock - Parte 2

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Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Spiritual Beggars – Ad Astra [2000]
Formado na Suécia, o Spiritual Beggars começou como um novo projeto do guitarrista Michael Ammott após deixar o Carcass. Trazendo um som totalmente diferente de sua antiga banda, o grupo busca toda a  inspiração lá nos anos 70, com um trabalho de guitarras encorpado e muito groove.  Escolhi esse disco basicamente por ser o meu favorito e o que considero o mais cativante, além de ter o vocalista Christian “Spice” Sjöstransd, cujo timbre combina agressividade e melodia, como o estilo pede.  Esse é o último registro de Spice que seria substítuido por JB, e mais tarde deixaria o posto para Apollo Papathanasio, que assume os vocais atualmente. O Spiritual Beggars é um dos melhores representantes do gênero e merece uma ouvida em toda a sua ótima discografia.

Nebula - Charged [2001]

Ao deixarem o lendário grupo Fu Manchu, o baterista Ruben Romano e o guitarrista Eddie Glass montaram o Nebula, no final dos anos 90. O trio une uma porrada de riffs ao som do Blue Cheer e tudo isso com a energia de uma banda de garagem. O trabalho de guitarras de Eddie Glass é acima da média. Os três primeiros discos são impecáveis, mas escolhi Charged por trazer a crueza do primeiro disco, com composições mais bem elaboradas e um pé a mais na psicodelia. A banda lançou quatro álbuns e quatro EPs e em 2010 entrou num hiato, que se arrasta até hoje, infelizmente.


Dead Meadow – Dead Meadow [2001]
Enquanto a maioria dos grupos de stoner tem sua sonoridade baseada em riffs e com forte influência de Black Sabbath, o Dead Meadow explora o lado mais psicodélico do gênero, soando como um Pink Floyd mais encorpado. O grupo investe em passagens atmosféricas, longos solos de guitarra, psicodelia, muito (muito mesmo) wah-wah, e fuzz. Ao longo de sua discografia, a banda foi deixando o som cada vez menos pesado e mais voltado às viagens sonoras com um apelo até certo ponto acessível. Seu disco de estreia fica como o registro mais representativo do quarteto de Washington DC.


Torche – Harmonicraft [2012]
O Torche é uma banda curiosa. Mesmo tendo uma sonoridade típica do gênero, com muitos riffs, guitarras droppadas e passagens viajantes,o grupo não abre mão de belas melodias, canções curtas e refrãos grudentos. Para quem não aprecia tanto o lado mais psicodélico, as longas jams e viagens que fazem parte do estilo, o Torche pode ser uma boa indicação, ao menos para começar a entrar nesse mundo chapado. A banda tem quatro discos no currículo, todos de alto nível, mas indico o último trabalho dos caras, que cativa de primeira.



Melvins – Houdini [1993]
Erroneamente classificado como “grunge”, assim como milhares de outras bandas da cena indepente dos anos 90, o Melvins tem uma discografia pra lá de extensa e Houdini é o melhor e mais representativo registro. O som desse trio de Washington é uma mistureba só. Tem hardcore, doom metal, sludge, hard e mais uma porrada de coisas. No fim das contas o Melvins faz barulho, e dos bons. Apesar de ter outro disco maravilhoso, com o sugestivo nome de Stoner Witch (1994), ainda classifico esse álbum de 94 como o auge da banda. Destaque para a versão de “Goin’ Blind” do Kiss.

Cinco Discos Para Conhecer: Stoner Rock - Parte 1

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Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Bruno Marise

Existem inúmeras versões e definições a respeito do surgimento do chamado Stoner Rock. Mas a primeira vez que o termo foi usado, foi em 1997, ao batizar a coletânea Burn One Up! Music for Stoners, da Roadrunner Records. Enquanto gênero, ele realmente surgiu e se popularizou a partir da década de 90, porém todas as suas influências e características datam dos empoeirados anos 70. O interessante dessa vertente, é que apesar de conseguir agregar inúmeras bandas, ela é bastante abrangente. Se fossemos tentar defini-lo, seria uma mistura de doom metal, psicodelia, space rock e blues. As características em comum estão nas canções baseadas em riffs, pedindo toda a benção a Tony Iommi, uso constante de pedal wah-wah e fuzz, produção simples e cru e letras sobre drogas (daí o termo “stoner” que é uma denominação pejorativa, algo como “maconheiro”), misticismo, sexo ou as vezes um amontoado de palavras sem muito sentido. Exatamente por ser um nicho tão difuso, resolvi dividir esse post em duas partes, indicando os dez discos que representam um pouco de cada área desse gênero tão cativante. Boa viagem, bro!

Black Sabbath – Master Of Reality [1971]
Mesmo tendo sido lançado numa época em que tudo era taxado apenas como Hard Rock, Master Of Reality é sem dúvida o marco zero do stoner rock. Toda banda do gênero deve as calças ao Black Sabbath da fase Ozzy. Esse é o disco Stoner por excelência, praticamente uma cartilha. Está tudo ali: Os riffs encorpados, maconha (“Sweet Leaf”), faixas viajantes (“Orchid” e “Solitude”), cozinha pesada. Se nos dois primeiros discos a influência de blues e jazz ainda eram evidentes no som dos maloqueiros de Birmingham, aqui foi que o caldo engrossou. 42 anos se passaram e poucas vezes ouviu-se um som de guitarra tão pesado. Disco obrigatório pra qualquer um que queira fazer esse tipo de música.

 

Kyuss – Welcome to Sky Valley [1994]
Depois do Black Sabbath, o Kyuss é sem dúvida a banda mais cultuada da cena stoner. Em 1992 o quarteto de Palm Desert deixou os cabeludos maravilhados com o peso de Blues For The Red Sun. Na época, a banda chegou a ser rotulada de “desert rock”. Mas foi com o terceiro disco que eles atingiram o auge, com uma tracklist dividida em três suítes de várias partes cada. O brilhante e ainda adolescente guitarrista Josh Homme consegue mesclar riffs monolíticos a la Black Sabbath com passagens viajantes e psicodélicas, tudo em afinação droppada e usando amplificadores de baixo pra deixar tudo mais pesado e grave. Apesar de sempre ter rejeitado o rótulo stoner, o Kyuss foi importantíssimo para o desenvolvimento e popularização do gênero, que cresceria anos 90 a dentro. A banda encerrou as atividades em 1995, se desmembrando em vários outros grupos entre eles o Queens Of The Stone Age, Fu Manchu, Mondo Generator, Unida, Dwarves e Eagles Of Death Metal.

 
Down – NOLA [1995]
O que era apenas um projeto entre amigos de New Orleans, acabou se tornando um dos supergrupos mais legais dos anos 90. Formado em 1991 por Phil Anselmo (Pantera) nos vocais, Kirk Windstein (Crowbar) e Pepper Keenan (Corrosion of Conformity) nas guitarras, Todd Strange no baixo e Jimmy Bower (Eyehategod) na bateria, o Down lançou seu disco de estréia em 1995, período em que o vocalista estava afundado nas drogas e havia se distanciado dos membros do Pantera. Com influências fortes de Black Sabbath, Pentagram e Saint Vitus, a banda já de cara entrega uma obra-prima do gênero, com as guitarras massacrantes de Windstein, o timbre matador de Keenan, o sempre poderoso vocal de Anselmo e uns toques de southern rock. Entre idas e vindas, o Down lançou mais dois discos bem interessantes, mas nunca conseguiu igualar a qualidade de NOLA, representante mais sombrio dessa lista, com a sonoridade puxada para o doom metal e as letras pessoais e diretas de Phil Anselmo

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Corrosion Of Conformity – Deliverance [1994]
O COC Começou como uma banda de Hardcore lá nos anos 80, e ao longo do tempo foi mudando totalmente sua sonoridade. Passou por uma fase thrash/crossover com o disco Animalize (1985), e com a entrada do guitarrista Pepper Keenan em 1991, foi mudando para um som cada vez mais próximo do então chamado stoner. Com o disco Blind, a banda manteve a pegada thrash, mas deu uma pisada no freio, deixando as canções mais pesadas e cadenciadas. Só no disco seguinte, Deliverance, com Keenan assumindo os vocais e a liderança criativa da banda, que o Corrossion Of Conformity investiu nos riffs e grooves típicos da década de 70, além de outros elementos, como wah-wah, fuzz e guitarras gêmeas solando. Nos trabalhos seguintes, a banda continuaria a mudar o som, sempre transitando entre o hard setentista e o metal, mas Deliverance fica como o registro mais representativo do stoner e uma das melhores obras de Pepper Keenan, com um timbre de guitarra inacreditável.



 

Monster Magnet – Dopes to Infinity [1995]
Muitos indicariam o chapadíssimo Spine Of God(1992), que segundo a lenda foi gravado com o líder e vocalista da banda Dave Wyndorf sob o efeito de todas as drogas possíveis. Talvez o mais indicado para conhecer o trabalho seja o hardão de Powertrip(1998), mas sem dúvida o mais bem acabado e com as melhores composições dessa fase, é Dopes to Infinity (nome lindo). Nesse disco, a banda conseguiu unir o clima viajante dos trabalhos anteriores com elementos de hard rock e as melodias vocais de Wyndorf. É um álbum stoner por excelência: Drogas, riffs, wah-wah, psicodelia e viajandices pra ninguém botar defeito.

 

Discografia Comentada - Big Star

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Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Bruno Marise

O Big Star é daquelas bandas injustiçadíssimas. O grupo foi formado em 1971 nos EUA, pela dupla de compositores Chris Bell (guitarra) e  o ex-Box Tops Alex Chilton (guitarra e vocais) em conjunto com o baterista Jody Stephens e o baixista Andy Hummel. Com um som altamente melódico, recheado de harmonias e guitarras vibrantes, o Big Star seria um dos pioneiros do chamado Power Pop, que se estabeleceria alguns anos mais tarde. Apesar de sempre aclamado pela crítica, o quarteto foi um gigantesco fracasso comercial, e durou pouquíssimo tempo. Nas décadas seguintes, com a explosão do rock alternativo, diversos nomes como R.E.M., The Replacements, Teenage Funclub e Wilco passaram a citar o Big Star como uma grande influência, o que resultaria em uma reunião do grupo nos anos 90. Hoje, mais de 40 anos depois de sua formação, o Big Star vem sendo reconhecido finalmente como uma das melhores e mais influentes acontecimentos dos anos 70, inclusive tendo um documentário contando sua história com o sugestivo subtítulo de “The Greatest Band That Never Made”. Como li certa vez, “Em um mundo ideal, o Big Star seria considerada uma das melhores bandas do mundo”. Apesar de uma carreira curtíssima, o quarteto deixou pelo menos três discos impecáveis, de nível altíssimo e influência indiscutível.

#1 Record [1972]
O disco de estreia do Big Star já é há algum tempo celebrado como um dos melhores trabalhos dos anos 70, mas na época de seu lançamento não foi isso que as vendas refletiram. O álbum traz a colaboração plena entre Chris Bell e Alex Chilton, que assinam dez das onze faixas, sempre alternado os vocais. “Feel” abre a bolacha com guitarras stonianas, os vocais chorosos de Bell e naipe de metais. “In The Street”, também de Bell, ficou famosa por ser a abertura da série de comédia That 70′s Show, originalmente na versão do Big Star e depois em uma regravação do Cheap Trick.  Chris Bell ainda contribui com os rocks “Don’t Lie to Me” e “My Life is Right”, e a maravilhosa e melancólica “Try Again”. Alex Chilton vem com a afiada “When My Baby’s Beside Me”, as tristes baladas  “Thirteen” e “Give Me Another Chance”, e a grudenta “The Ballad Of El Goodo”, um deleite para quem aprecia harmonias vocais. Composta pelo baixista Andy Hummel, “The India Song” é a única que destoa no disco, com um clima mais folk, ditado pela flauta. Os pops “Watch The Sunrise” e “ST100/6″, colaboração entre Bell e Chilton fecham o disco. #1 Record é o único álbum da banda com a participação plena de Chris Bell, tanto nas guitarras, quanto nos vocais e composições, além de seu trabalho intenso na produção, cuidando de cada detalhe da mixagem e gravação. Apesar da boa recepção pela crítica, a Stax não se esforçou em divulgar o disco, e as vendas despencaram. Extremamente decepcionado com o fracasso comercial e querendo evitar uma iminente rixa com Alex Chilton, Bell deixou a banda em 1972, e se afundou de vez na depressão que já o atormentava há algum tempo. O compositor lutou com a doença e o vício em heroína até o fim da vida, quando faleceu precocemente em um acidente de carro, aos 27 anos.

Radio City [1974]
Com a saída de Chris Bell, o Big Star tornou-se um trio, e Alex Chilton assume totalmente os vocais, a guitarra e boa parte das composiçõesDiferente do pop classudo e mega produzido de#1 RecordRadio City é um disco mais cru, direto, com produção simples e uma sonoridade que se aproxima ainda mais do que viria a ser o power pop. Mesmo perdendo um de seus principais compositores, o Big Star não baixou o nível e Chilton segurou a bronca com louvor, entregando composições ainda melhores que a do disco anterior. A guitarra em “O’ My Soul” influenciou 11 entre 10 bandas do rock alternativo dos anos 80 e 90. Apesar de ser um trabalho mais “roqueiro”, Radio City tem um clima geral de melancolia, que toma conta de praticamente todas as faixas, refletindo o ambiente de uma banda já em frangalhos. O disco é tão bom, que fica difícil citar apenas alguns destaques. Particularmente, gosto mais desse do que de #1 Record, que é mais celebrado. Recomendo que ouçam Radio City e tentem perceber tudo o que as bandas de décadas posteriores aprenderam com o Big Star.

Third/Sister Lovers [1985]


Radio City, sofreu do mesmo mal de#1 Record: Foi aclamado pela crítica, mas devido a péssima política de distribuição e divulgação do selo Ardent (subsidiário da Stax), foi um fracasso de vendas. O baixista Andy Hummel que estava na faculdade na época, optou por terminar os estudos, e também deixou a banda. Mesmo assim, Alex Chilton e Jody Stephens entraram em estúdio no mesmo ano para gravar o terceiro registro do Big Star. Muitos o consideram um disco solo de Chilton, mas como o compositor sempre foi grande responsável pela sonoridade da banda, então é bem justo que se considere esse trabalho como mais um do Big Star.  Se no álbum anterior o clima já era de melancolia, Third/Sister Lovers é praticamente um luto, refletindo todo o emocional afetado de Chilton. Já sem nenhuma pretensão de sucesso, a dupla remanescente do Big Star investe em algumas canções mais experimentais e temas sombrios. Ouça “Big Black Car” e “Holocaust” e tente não se comover com a tristeza na voz de Chilton. A falta de interesse da gravadora e dos próprios membros da banda fizeram com que o disco não fosse finalizado e as fitas ficaram arquivadas. Em 1978, com o Big Star já fora de cena, a PVC Records reuniu as gravações, e lançou o disco com o nome Third. A partir de 1985, sai uma nova prensagem, com capa diferente, faixas bônus e o nome de Third/Sister Lovers, que se tornaria a edição definitiva do terceiro álbum do Big Star.



In Space [2005]
Alguns meses após a gravação de Third/Sister Lovers, o Big Star se dissolveu de vez. Com a explosão do power pop e do rock alternativo nas décadas seguintes, inúmeras bandas citavam o Big Star como grande influência. Com isso, Chilton e Stephens se reuniram com o guitarrista Jon Auer e o baixista Ken Stringfellow do The Posies, e reformaram a banda. Em 2004, depois de quase 30 anos sem gravar material inédito, a nova formação do Big Star lança In Space. Apesar de não ter o mesmo frescor e qualidade dos discos clássicos, traz todos os elementos já conhecidos da banda: Ganchos melódicos, harmonias vocais e as guitarras afiadas e vocais marcantes de Alex Chilton. A banda continuou na ativa até 2010, quando Chilton foi internado em março com problemas no coração, vindo a falecer no dia 17. O Big Star tinha um show marcado na mesma semana no SXSW Festival, e os membros remanescentes tocaram mesmo assim, dedicando a apresentação à Chilton, com várias participações especiais. Em julho do mesmo ano, o ex-baxista Andy Hummel foi diagnosticado com câncer e também acabou morrendo, deixando Stephens como único membro vivo do grupo.